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Serviço Essencial – Primeira Noite

de Elves Cunha

Aposto que, quando você acorda na segunda-feira de manhã pra trabalhar, repensa as escolhas que tomou até aqui. O final de semana passa tão rápido que mal dá tempo de curar a ressaca. Às vezes acorda mais pra lá do que pra cá, mas sai assim mesmo. Eu já vi muita merda estranha na vida, mas ninguém com a habilidade de cagar dinheiro, então é o jeito. Não me leve a mal, doutor, eu gosto de trabalhar. O problema é o tipo de trabalho que me envolvi recentemente. Quando essa oportunidade apareceu, era boa demais pra virar a cara. Felizmente, hoje não preciso acordar cedo pra ir pro trampo, peguei os plantões noturnos. Infelizmente, trabalho pra chupadores de sangue. Isso, vampiros.

Não, doutor, não tenho nenhum problema pra tá tomando medicação. Vez ou outra, tomo umas coisinhas pra ficar esperto durante a madrugada, mas o assunto não é esse. Como eu ia dizendo, a situação tava aperreada. Passei os últimos anos alternando entre subemprego e desalento, fazendo todo tipo de bico, vendendo o almoço pra comprar a janta. Tem sido assim desde que ganhei o mundo.

Quando eu era criança, sonhava em ser piloto de robôs gigantes. É isso mesmo: vestir roupas coloridas e lutar contra monstros gigantes vindos de outra dimensão. Meu problema nem era o fato de nada disso existir, mas as surras que eu tomava do meu padrasto. Eu era uma criança criativa e isso o deixava puto. Acho que ele não tinha imaginação alguma, apenas raiva. Ou talvez eu fosse parecido demais com meu pai pro gosto dele. Não importa. A questão é que, sempre que eu tinha um sonho, ele fazia questão de pisar em cima. Foi assim quando eu quis ser astronauta, piloto de avião, engenheiro. Pra ele, eu era muito burro, e minha mãe era tão dependente dele que não se metia. É, ela não me abraçou nem quando ele quebrou meu braço depois de chegar em casa de porre. Parece clichê, né? Problema com os pais. Mas na real, se o senhor tivesse uma família como a minha, também teria fugido de casa.

Os últimos anos foram uma confusão de vai e vem na casa de amigos e empregos merda. O único ano de estabilidade que tive foi no serviço militar obrigatório. Trabalhei que nem um cavalo, mas aprendi algumas coisas interessantes e era pago em dia. Quando já estava começando a me acostumar com a ideia de ser milico, fui dispensado. Nos dois anos posteriores, não faço a mínima ideia de como sobrevivi. Minha sorte mudou quando o Fábio, um antigo colega de batalhão, me ligou dizendo que tinha um serviço. Ele não explicou direito o que era o trabalho, mas disse que dava pra faturar uma boa grana, apesar de ser barra pesada. Como eu tava morando de favor na casa de uma ex-namorada, não tinha nada a perder. 

E foi assim que fui parar na Carmesim Ambiental Soluções em Resíduos.

Meu primeiro dia de trabalho — primeira noite, melhor dizendo — foi um pesadelo. Digo, eu tava esperando algo sinistro, mas puta merda. Pra chegar na empresa, tive que cobrir uns cinco quilômetros depois do final da linha do “Pau Te Acha”. Pelo nome já dá pra imaginar. O portão preto todo pichado não tinha nenhuma placa ou qualquer sinalização de que era ali. Reconheci o local graças à foto que o Fábio me mandou. Apertei o interfone e fui recebido por uma voz rouca e grave. Senti um enjoo forte e fiquei um pouco tonto. Mostrei minha identidade para a câmera e o portão automático rolou pro lado. 

No estacionamento, vi dois caminhões de coleta, cujas laterais traziam a logomarca vermelha do sol nascente, e um galpão com os portões fechados. Uma brisa gelada me arrepiou todo e senti que tinha algo ali no escuro, entre os veículos, me observando. Não demorou muito pra uma coisinha sair latindo das sombras e vir até mim. Quando aquele pugzinho preto se aproximou todo destrambelhado, abri logo um sorriso. Eu adoro cães. Me abaixei pra fazer um carinho naquele bebezão e ele fez um esforço enorme pra centralizar os dois olhos em mim. Então a primeira bizarrice da noite aconteceu: os olhos dele começaram a brilhar como duas bitucas de cigarro e minha cabeça ficou pesada, como se uma nuvem me impedisse de pensar. O enjoo aumentou.

— Julio, sai de perto do Conde! — Sacudi a cabeça e vi Fábio correndo na minha direção. Levantei de uma vez e minha cabeça girou. Eu podia jurar que o cachorro sorriu pra mim. Ele agarrou o pug com os braços estendidos, evitando contato visual, e correu até o outro lado do estacionamento, onde havia uma corrente presa no chão. Depois de amarrar o pequeno Conde, voltou com as mãos na cintura. — O cavalo mordeu tua cabeça, foi? Já te falei que o Conde é perigoso.

— Foi mal, cara, não sabia que não podia fazer carinho no dog. Foi difícil chegar aqui. É muito escondido este lugar, bicho! — Fábio me olhou com cara de quem tinha chupado um limão azedo.

— Puta merda, eu sabia que isso ia acontecer. Tu não me ouve! Que dia é hoje?

— Segunda, ué. Não é hoje que começa o trampo? O que tá rolando?

— Não mano, hoje é domingo. Tu já trabalha aqui tem uma semana. Eu te falei pra não chegar perto do Conde pra não rolar uma merda dessa. Porra, agora vou ter que te explicar tudo de novo.

Tentei me segurar, mas não deu. Soltei uma risada e falei um pouco alto demais.

— Tá bom, o cachorro tem superpoderes. Daqui a pouco vai me dizer que existe chupa-cu.

Não gostei da cara que ele fez.

Fábio me levou pra dentro, onde vi uma máquina enorme, parecida com uma caldeira.

— Esse aqui é o incinerador de lixo. A gente usa muito. A Dinilza, ali, é a operadora. Ela toma conta, mas quando precisa ajudamos a fazer os reparos. — Vi uma senhora baixinha uniformizada. Ela usava óculos de proteção e uma máscara que me impedia de ver seu rosto. Levantei o braço e acenei, mas ela me ignorou e voltou pro trabalho. Quando abriu o forno, o bafo quente atravessou os vários metros que nos separavam e me fez agradecer por não estar ali todo o expediente. Dinilza pegou duas sacolas brancas e as atirou dentro da boca flamejante.

Entramos no escritório e senti alívio instantâneo por conta do ar condicionado. Atravessamos a recepção e fomos à sala de descanso. Lá, Fábio me entregou a chave do meu armário.

— Vai encontrar teu uniforme aí. Melhor se trocar logo antes da chefe acordar. 

— O quê?

— Falei pra se trocar logo.

Abri o armário e puxei o uniforme preto. Era um pouco pesado, por conta do tecido, e quente que nem o diabo. Me vesti, calcei as botas do EPI e guardei minhas coisas no armário. No momento que fechei a porta de metal, me deparei com Matilde, a mulher que me entrevistou, me encarando de braços cruzados, encostada na parede à minha direita. 

— Jesus! — Pulei de susto.

— Não, ele não. — Ela disse, sorrindo.

— Não tinha ouvido a senhora entrar. — Hoje Matilde parecia pelo menos uma década mais velha que quando a encontrei na entrevista. A cara dela tava branca como cera. Umas olheiras profundas marcavam o rosto pálido e, por algum motivo, me lembrei do meu pai deitado no caixão. Ela se aproximou de mim com tal velocidade que não percebi o momento em que ela deu o primeiro passo e o último em minha direção. Quase caí sentado pra trás.

— Vamos, garoto. Hoje será uma noite cheia.

Matilde chamou a equipe pra sala de reuniões. Além de mim, tavam Fábio e um velho brutamontes que parecia ter saído de um filme de ação direto pra uma clínica de reabilitação. Todos o chamavam de Tonho. Vestia o mesmo uniforme preto, com a logo vermelha gravada nas costas, e fedia a cigarro. Antes de começar, a chefa foi no frigobar e, ao abrir, vi que tinham bolsas de sangue lá dentro.

— Mas que caralho… — Levei um chute de Fábio debaixo da mesa e calei a boca. Ela voltou chupando o sangue da bolsa, como se fosse suco, e começou a corar. O aspecto velhaco foi sumindo do rosto como se fosse mágica. Fingi que aquilo não tava acontecendo.

— Senhores, como todos sabem, hoje é o final da quaresma. É uma noite muito especial, em que nossos clientes precisam da nossa máxima efetividade. Vocês receberão os pontos de coleta pelo aplicativo a partir das duas da manhã e, se tudo correr como desejado, não vão precisar limpar muito sangue. Mas levem recursos extras, caso ocorra alguma eventualidade. Alguma pergunta? — Fábio e Tonho pareciam serenos e, pelo visto, eu era o único que não estava totalmente por dentro do assunto. Levantei a mão.

— Chefa, licença. Não tô entendendo. A gente vai coletar o quê, mesmo?

— Cadáveres. O quê mais seria? — Senti minha pressão baixar. Ela franziu o cenho e deu mais um gole — Ah não. Não me digam que o Conde apagou a memória do novato. — Tonho desviou o olhar e Fábio deu um sorriso amarelo. Levantei na hora.

— Isso só pode ser sacanagem. Eu não concordei com isso! — Fez-se silêncio por um instante na sala, e então Matilde sorriu. 

— Julio, tu assinaste um contrato. E bebeste meu sangue. Independente do que tu te lembras, és meu. Agora te senta! — Pela primeira vez tive medo ouvindo sotaque português.

Os olhos dela brilharam, como os do cachorro. Obedeci imediatamente, antes de pensar o quê tava fazendo. Comecei a tremer imaginando em que tipo de merda tinha me metido. Fábio bateu nas minhas costas e se levantou, me chamando pra começar o trabalho. Só consegui levantar quando Matilde permitiu.

***

— Cadáveres?! — gritei. Não pude acreditar no que tinha ouvido na reunião. Estávamos na cabine do caminhão, enquanto Tonho dirigia.

— Vou acender um cigarro, abaixe as janelas aí — disse ele, como se não tivesse acontecido nada demais.

— Eu acho que “presunto” soa melhor. — Fábio sorriu.

— Tu tá de sacanagem com a minha cara. 

— Será que ele vai desmaiar de novo que nem no primeiro dia? — Tonho ria, expelindo fumaça feito uma locomotiva. 

A primeira parada era atrás de uma casa noturna. A fama das sacanagens que rolavam ali dentro era conhecida na cidade toda, mas o fato de o dono do lugar ser um vampiro com certeza não era. Estacionamos nos fundos.

— E agora? — perguntei. Tava suando tanto que se o uniforme não fosse preto daria pra ver as marcas.

— Já mandei mensagem pro segurança. Ele vai chamar quando eles tiverem terminado. Relaxa aí. 

Não demorou muito e a porta dos fundos foi aberta. Um grandalhão careca saiu e fez um sinal com a lanterna pra entrarmos. Fábio e Tonho abriram as portas e pularam pra fora do caminhão. Eu, que tava no meio, saí devagar, tremendo. 

Entramos por um corredor estreito e passamos por algumas mulheres, em vários graus de nudez, entrando e saindo por portas, seguidas de mais seguranças. O careca apontou pra uma escada que dava pra um porão, e descemos. Entramos em uma sala ampla, iluminada malmente por uma luz vermelha fantasmagórica. Até aquele momento eu rezava pra tudo ser uma pegadinha, um apresentador de TV aparecer e dizer que eu ganhei um milhão de reais, ou algo assim. Mas não era.

No centro da sala, uma mesa tava dentro de um pentagrama de giz desenhado no chão. Em cima dela, o cadáver de um homem. Ele devia ter mais ou menos uns quarenta anos e tinha marcas de mordidas profundas por todo o corpo. Doutor, tinham mordido até o pau dele! Do outro lado da mesa, três figuras encapuzadas observavam tudo. 

Tonho pôs sua bolsa de ferramentas no chão, abriu o zíper e tirou um facão de dentro. 

— Pode começar a cortar, novato — e empurrou o facão nas minhas mãos.

Minha vista escureceu e quando dei por mim, acordei na cabine do caminhão. Levantei e senti a cabeça quase pra explodir. Alguém bateu no vidro várias vezes e, quando abri a porta, ouvi a voz rouca do Tonho.

— Bora, vai buscar o último pacote.

Desci sem reclamar, me sentindo meio grogue. Fábio voltou de dentro do clube com dois sacos brancos e gritou pra mim enquanto os jogava na compactadora.

— Como se fosse a primeira vez, né?

Entrei novamente no recinto. Quando desci pro porão, percebi que as figuras encapuzadas não estavam mais lá. Os restos do cadáver estavam em pedaços no chão, e Tonho jogava um produto por cima para melhorar o cheiro e remover as manchas de sangue, provavelmente. Ele olhou pra mim com reprovação e apontou pros sacos vazios. Botei minhas luvas e comecei a recolher o que havia sobrado. A luz vermelha da sala me impediu de diferenciar o que era sangue e o que era desinfetante, mas vomitei quando vi que eles tinham deixado as tripas pra mim. Recolhi tudo o mais rápido que pude, tentando não olhar, e vomitei uma segunda vez, dentro do interior do saco antes de fechá-lo. O segurança riu da minha cara.

Saí meio zonzo de lá e não vi o batente no chão da saída do clube. Tropecei e deixei a merda do saco cair aos pés de uma mulher que fumava no estacionamento. Ele não tava fechado direito e o conteúdo se esparramou. Levantei rápido, sem saber o que fazer, enquanto a moça gritou e correu pra rua. Tonho saiu, sei lá de onde, e a desmaiou com um soco só. Ele me encarou feito um touro emputecido e partiu pra cima de mim.

— Tá querendo acabar morto, novato? Se quiser, eu te mato aqui e agora, antes que tu foda com a gente.

— Calma, bichão! — Fábio interveio. — Temos que resolver essa bronca. Viemos aqui pra limpar, não pra cagar mais a situação. 

Tonho foi até o caminhão e voltou com uma pistola. Fiquei paralisado enquanto ele passava pela gente e se aproximava da mulher caída no chão. Tonho apontou a arma pra cabeça dela. Antes que eu pudesse pensar no que fazer, meu corpo se moveu sozinho. Me atirei em cima dele e começamos a rolar pelo chão. A arma foi pra longe.

— Sai de cima de mim, porra!

— Não precisa matar ela! O cachorro!

— A culpa é tua, seu bosta! É ela ou a gente!

Fiquei sem ar quando senti o golpe nas costelas. A sequência de socos que levei na cara deve ter afundado um pouco meu crânio. Quando finalmente Fábio e os seguranças conseguiram tirar ele de cima de mim, gritei novamente.

— O cachorro!

Fábio me ajudou a levantar e ajeitou os óculos quadrados de armação azul no rosto. Vi os olhos dele clarearem quando entendeu minha ideia.

— Porra, o Conde! O cachorro pode apagar a memória dela! Boa ideia, Julio!

— Vocês perderam a cabeça. Se levarmos uma civil pra dentro da empresa, é o nosso sangue que vai parar no frigobar da Matilde — disse Tonho, limpando os punhos com meu sangue no uniforme. 

Fui voltando a sentir minha cara, que latejava, toda inchada. Toquei devagar nela tentando imaginar o estrago. Pelo menos não perdi nenhum dente. 

— Se a gente fizer isso, ninguém morre e o segredo não vai ser exposto. Todo mundo ganha.

Tonho ficou calado um instante, enquanto a ideia tomava forma dentro da cabeça, e então concordou. Trouxemos a mulher pro caminhão e jogamos ela dentro da caçamba. Fábio fechou a compactadora e entramos na cabine.

Passamos por um cemitério, uma pequena igreja, uma oficina e outros lugares mais ou menos suspeitos que os vampiros da cidade utilizavam pra fazer seus banquetes, e fizemos as coletas o mais rápido que pudemos. Fomos acomodando os sacos ao redor da mulher desacordada. O soco do Tonho foi poderoso mesmo. Não encontramos mais nenhum vampiro. A hora avançada ajudou. Se as lendas estiverem certas, no fim da madrugada todos já estariam em suas tocas se protegendo da luz do sol.

Voltamos ao galpão perto do amanhecer. Tiramos os sacos da compactadora e fui colocar na caçamba em frente ao incinerador, onde Dinilza aguardava sentada em uma cadeira, ainda de máscara e óculos. Quando ela viu Tonho e Fábio carregando a mulher pra fora do caminhão, dei um sorriso amarelo. Dinilza revirou os olhos e começou a jogar os sacos dentro do incinerador.

— Não quero saber de nada e tenho raiva de quem sabe. — Foi só o que ela disse.

Voltei correndo pra onde eles estavam. Fábio tentava acordar a moça enquanto Tonho vinha com Conde na coleira. O pequeno desgraçado deu a volta alegre perto de nós, com a língua pra fora da boca. Eu tinha certeza que ele tava se divertindo com a minha situação. A moça foi despertando devagar e se assustou, sem saber onde tava. 

— Calma, é só olhar pro cachorro que vai ficar tudo bem — falei, segurando o Conde e aproximando ele do rosto dela. Antes de usar sua habilidade, o pug deu duas lambidas na boca da moça. Quando os olhos dele começaram a brilhar, ela começou a sorrir como uma criança abobada. Alguns segundos foram o bastante pra ela começar a babar.

— Ih merda, para, se não ela vai virar um vegetal. — Disse Fábio, me empurrando. A mulher perguntou onde estava a mãe dela, antes de desmaiar novamente.

— E agora? — perguntei.

— Vou deixar ela em algum banco de praça. Bom plano, novato. — Tonho saiu com a mulher nos braços. Colocou-a no banco de trás de seu carro e dirigiu até a saída.

Segui para dentro, feito um zumbi. Troquei de roupa e joguei o uniforme na máquina de lavar. Dei uma olhada no meu rosto pelo espelho e, para meu espanto, não havia nem sinal do espancamento. Quando tava saindo pelo portão, Fábio me alcançou.

— Tomar o sangue da chefe tem suas vantagens — disse Fábio, rindo — Uma dose por mês é o bastante pra ajudar a curar esses machucadinhos. 

— Então… Vampiros, né?

— Parece loucura, mas depois acostuma, vai por mim. Onde tem poder, eles tão lá. Não tem pra onde correr. Mas ei, tamo junto nessa. — E a ficha caiu. Sim, ele tava tão assustado quanto eu. Se desertasse, iria ser ele dentro dos sacos, indo direto pro incinerador. Eles tinham que sobreviver, exatamente como eu. Eles dependiam de mim e eu dependia deles a partir de agora. Me senti como na época do exército, fazendo parte de algo maior que eu. Mas da pior forma. E então falei a primeira palavra que vem na nossa cabeça quando acordamos pra trabalhar.

— Caralho.

Pois é, doutor. Essa foi a primeira noite de trabalho de que tenho lembrança. Bem maluco, né? Mas isso foi só o começo. O quê? Acabou o tempo? Bom, nos vemos na próxima sessão então. Ainda tenho muito o que contar e espero que o senhor não  comente com ninguém. Aquele negócio de confidencialidade, certo? Obrigado pela receita, mas acho que não vou precisar. 

Até a próxima, doutor.

2 comentários em “Serviço Essencial – Primeira Noite”

  1. Que maluco meu! É sinistro essa parada. O empregador é vampiro, os colegas de trampo são vampiros, a coleta na madrugada é de corpos de vampiros (pelo que entendi). Enfim, o Júlio revela-se um vampiro, e está no divan com o doutor. Tenso pra caralho essa “Primeira Noite” de o Serviço Social.

    Interessante esse relato de violência contra a criança destacada nos primeiros parágrafos, afinal de contas os casos de violência infantil se dá no seio dos “vampiros” da família e precisa ser denunciada e enfrentada em todas as frentes, inclusive literárias.

    Vejo que o primeiro capítulo também descreve de forma sucinta sobre o desemprego, o subemprego, o desalento, a informalização. É uma forma colocar em debate a precarização das relações de trabalho do lado da mão-de-obra operária. Flexibilização legislação trabalhista e das relações de trabalho é fruto do poder político e econômico exercido por Vampiros capitalistas selvagens que sugam até a última gota de sangue da classe trabalhadora.

    Valeu Elves por compartilhar conosco esse primeiro capítulo da séria. Parabéns, o trabalho está ficando louco e deixando meus parafusos soltos. kkkkk

    1. Obrigado. Só um detalhe, os colegas de trabalho do Julio não são vampiros, são humanos trabalhadores como ele. Deve ter ficado a confusão pela passagem em que é revelado que eles são alimentados mensalmente do sangue vampirico da chefe deles, a Matilde. Esse gole de sangue mantém eles sob controle, além de mantê-los saudáveis pra trabalhar

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